Viva a Fotografia!!

Viva a Fotografia!!
Carapebus, Sumidouro, Duas Barras, Porciúncula, Varre-Sai...

92 nomes diferentes, estranhos, exóticos, engraçados...

Nem parecem nomes de cidades. Pois são!

E são cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro, onde os problemas de emprego, geração de renda, falta de lazer e atividades culturais levam a população à não-valorização do lugar onde vivem – esse Rio de Janeiro tão diverso, charmoso, e tão desconhecido – o que favorece movimentos migratórios em busca de novas oportunidades nas grandes cidades.

A imagem que a população tem de sua cidade revela a forma como ela se relaciona com o espaço urbano, a percepção que tem sobre sua inserção na sociedade, os aspectos que mais gosta, o que incomoda na cidade e o que nela gostaria de mudar.

Revelar e compartilhar essa imagem contribui para que a cidade seja melhor compreendida e, em conseqüência, mais valorizada por seus habitantes.

Os diversos olhares, as visões distintas de paisagens, pessoas e histórias a partir de imagens fotográficas positivas mostradas a seus habitantes... Material rico de informação a ser utilizado em benefício de todos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"A fotografia como elevação do ser humano"

O que seria o bom retrato?
Seria o que expõe fiel e cruamente a alma e o caráter do retratado?
O retrato mostra a alma e o ânimo do retratado ou o narcisismo e
as manias obscuras do fotógrafo?
O retrato fiel é o que sintetiza a forma de ser e viver do retratado?
Ou seria, ainda, o que o retira de seu habitat e o mostra em fundo limpo, artificial, desnudado de seus penduricalhos exteriores?
O retrato é o retratado ou o que se retrata?
São tantas perguntas...
A fotografia hoje, tal como outras atividades, é vítima do galopante processo de descarte e automação que torna a vida cada dia mais pasteurizada, igual, chata, portanto vazia de individualidade... e o retrato saiu rapidamente daquelas poses cerimoniosas da família no estúdio com fundo acortinado e do caprichado “plano americano” onde só aparecia a porção mais bela de cada um, para o grupo avacalhado pelos indefectíveis chifrinhos dos que nos ficam atrás, nos registros extemporâneos de hoje.
O estúdio fotográfico e o retratista que o opera produzem a magia de quase tornar semelhantes pessoas de todas as classes sociais. E a função deles – estúdio e fotógrafo de estúdio – é ver, descobrir e registrar as características especiais e os melhores ângulos e momentos de seus efêmeros clientes.
Trazer um estúdio fotográfico completo à rua e às casas com seus apetrechos e adereços para produção e obtenção das imagens humanas, captando o maravilhamento momentâneo de cada modelo, é a essência do meu projeto original, que foi adaptado para despertar o interesse dos alunos das escolas públicas estaduais pela arte e pela cultura.
Elevar a auto-estima (e um bom retrato o que é?) é sempre um primeiro estágio quando se busca alguma realização pessoal.
Até hoje as pessoas humildes das periferias das cidades brasileiras só foram visitadas por foto-jornalistas ávidos por construir com suas poderosas tele-objetivas e grande-angulares uma estética das suas chagas, o patológico da sua degradação e do seu desespero. A quase totalidade desses fotógrafos chega ali submetida a uma pauta pseudo-jornalística camuflada em denunciadora da miséria e portadora de esperanças e soluções que jamais chegam. Estão, na verdade, em busca do espetaculoso e sequer pensam em eticamente discutir o direito de imagem dos pobres ali fotografados.
A maioria desses fotógrafos deveria saber que a fotografia não é a representação fiel da realidade, já de si falseada pela dimensão única e pelo enquadramento. Só nos tornamos quase iguais quando estamos nus ou quando estamos uniformizados. Uma forma de diminuir o distanciamento existente entre as pessoas é fotografá-las fantasiadas, desprovidas das ostentações materiais que as diferenciam.
O meu propósito com esse projeto/sonho/caminhada “empurrando” um carrinho- estúdio por esse Brasil de colossal distanciamento social, de inacreditável afastamento cultural, de inacreditável e desumana diferença de poder de subsistência, etc, é sair retratando na recepção mais saudável do termo, as pessoas nos lugares onde elas teimam em viver.
É mais uma abordagem – que pretendo a mais honesta da minha vida profissional – e estou ciente e exposto aos riscos que podem advir dessa ousadia. E não irei travestido ou camuflado de nada além da auto-adorável condição de fotógrafo.
E quem sabe... reencontrar a minha infância de fotógrafo na longínqua e doce Manaus dos anos 1950 onde só existiam o Photo Mendez, A Favorita e o Foto Nascimento para se ser retratado e cultuar a fotografia, e onde tudo começou pra mim.
Depois, com a mágica só possível através da fotografia, pretendo congraçá-los numa grande exposição/painel num lugar público da cidade. O que mais desejaria um inveterado amante e praticante agradecido da fotografia?
Pela fotografia!
Pela paz!
Sebastião Barbosa, fotógrafo

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